quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sobre a Psicoterapia

“É a sua visão do mundo que orienta a vida do terapeuta e anima o espírito de sua terapia.” C G Jung

A psicoterapia é um diálogo entre o terapeuta e o paciente; é a interação psíquica entre ambos.

O terapeuta deve oferecer a oportunidade do paciente apresentar seu material da maneira mais completa possível, sem limita-lo com pressupostos ou julgamentos. O terapeuta dará um retorno ao paciente sobre o efeito que a interação entre os dois produz no terapeuta.

O terapeuta vivencia junto com o paciente o seu processo evolutivo individual, que Jung chama de processo de individuação. A individuação é “tornar-se um” consigo mesmo, e ao mesmo tempo com a humanidade toda, na qual nos incluímos.

O que ocorre na psicoterapia é a incorporação progressiva de conteúdos inconscientes ao consciente, fazendo com que a dissociação neurótica entre a atitude consciente e a tendência inconsciente seja superada e a personalidade alcance uma integração.

Uma das formas de acessar os conteúdos inconscientes é através da interpretação dos sonhos. Outra forma lúdica e eficaz é através da imaginação ativa.

Etapas da psicoterapia: confissão, esclarecimento, educação e transformação. A confissão seria a liberação dos afetos contidos, a revelação dos “segredos” inconscientes, o reconhecimento de aspectos “sombrios” da personalidade. O esclarecimento refere-se à transferência feita pelo paciente que deve ser interpretada pelo terapeuta. A terceira etapa é o momento em que são traçados novos rumos, substituindo os antigos. A última fase irá procurar “ouvir” o anseio da alma daquela pessoa, que é única.

Nessa interação entre paciente e terapeuta ambos irão se transformar, na verdade. O terapeuta deve estar sempre atento às suas dificuldades para que elas não retroajam desfavoravelmente sobre o paciente. Portanto, é importante que o terapeuta também passe pelo mesmo processo de auto-educação e transformação.

“O objetivo mais nobre da psicoterapia não é colocar o paciente num estado impossível de felicidade, mas sim possibilitar que adquira firmeza e paciência filosóficas para suportar o sofrimento. A totalidade, a plenitude da vida exige um equilíbrio entre sofrimento e alegria.” C G Jung

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Contínuo

“A continuidade é inerente à estrutura psíquica e não há razões de supormos o contrário, assim como não podemos imaginar que haja lacunas nos processos da natureza. A natureza é um contínuo, e muito provavelmente a nossa psique também o é.” C. G. Jung

O filósofo Espinoza viveu entre os anos de 1632 e 1677 e suas idéias foram bastante revolucionárias. Segundo ele, o que existe é uma substância única, auto-reguladora, causa de si, em si e por si, não existindo nada fora dela.
            Descartes afirmava que a realidade era constituída de duas substâncias – o pensamento e a extensão – que encontravam-se rigidamente separadas. Em contraposição, Espinoza declarou haver apenas uma Substância, sendo que à ela são atribuídos os atributos da extensão e do pensamento.
            Espinoza também dizia que os atributos poderiam ser infinitos, mas o homem apenas atribui esses dois, devido a sua pequenez de visão. A atribuição dada pelo homem é modal, ou seja, feita por um modo da Substância.
            O modo é como um “corte” que é feito na Substância, num determinado momento; é uma possibilidade de modificação. O ser humano é um modo da Substância e é, para Espinoza, um indivíduo uno, composto de corpo e mente juntos. Não apenas o ser humano, mas todos os entes, são modos de uma única Substância.
            Em outros termos, podemos afirmar que existe um contínuo e infinitos descontínuos que são como ondas dessa continuidade. Assim como o oceano é uma continuidade e as ondas são dobras suas, possuindo uma diferenciação, mas nunca deixando de ser o oceano. As ondas são expressões, possibilidades.
            Espinoza dizia que essa Substância única também poderia ser chamada de Deus ou Natureza. A partir do momento que ele iguala Deus à sua criação (natureza), ele está dizendo que tudo existe na Substância e por causa dela. Ou seja, Deus não se encontra num lugar separado, como um observador distante da sua criação, no “céu” ou em qualquer outro lugar específico. Deus está em todos os lugares e é tudo.
            Em termos junguianos, podemos dizer que o Si mesmo (Self) é a divindade imanente em cada ser humano. No processo de auto conhecimento, podemos reconhecer essa realidade maior que somos todos nós.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Si-mesmo nos sonhos

O Si-mesmo é o centro regulador da psique e controla, também, os sonhos da pessoa. Os sonhos possuem um papel fundamental na integração de aspectos inconscientes, harmonização dos conflitos internos, além de conterem, muitas vezes, “avisos” premonitórios. E é através deles que o Si-mesmo pode se comunicar simbolicamente com o Eu.

            No mundo onírico aparecem situações e pessoas que muitas vezes não são do agrado do Eu. As tarefas do ‘ego onírico’ não são escolhidas, mas dadas; tudo acontece como se fosse uma realidade distinta da pessoa que está sonhando. Esta sensação ocorre porque não é a consciência nem o Eu (seu centro) que regulam os sonhos, mas sim o Si-mesmo, que possui uma “visão” mais abrangente e “sabe” que situação a pessoa precisa passar.

     “Esse diálogo entre o ego vigil e o sonho, mediado pelo ego onírico, é parte do mais amplo diálogo entre o ego e o Si-mesmo. O Si-mesmo não aparece freqüentemente em imagens oníricas, pelo menos de maneira reconhecível. É, mais amiúde, visto como o construtor invisível do sonho, aquela força da psique que não só organiza as cenas e a ação mas também atribui ao ego onírico um papel especial.”*

            O Si-mesmo também pode aparecer no sonho de uma maneira mais explícita. Quando isto ocorre, é provável que o Eu esteja precisando se estabilizar. Isto porque “tende a existir uma relação recíproca entre a estabilidade do ego e a manifestação do Si- mesmo numa forma estável.”* É comum, por exemplo, que o Si-mesmo apareça ao sonhador na forma de uma mandala ou de um edifício redondo com uma fonte no pátio central, etc. A maioria desses símbolos apresentam a forma circular, pois dá a idéia de integração, de equilíbrio entre os opostos.

            Além das formas já mencionadas, “o Si- mesmo pode aparecer como uma voz, assim como a ‘voz de Deus’, que parece vir de ‘todas as partes’ e, em geral, possui um sentido de indiscutível integridade e correção, parecendo simplesmente afirmar as coisas como na realidade elas são, sem lugar para discordâncias.” * Nesse sentido, o Si-mesmo pode estar exercendo um papel revelador ao invés de simplesmente compensar uma estrutura fraca do Eu. Essas revelações podem estar ajudando a impulsionar o processo de individuação, tornando o diálogo Eu – Si-mesmo mais natural e freqüente, uma vez que o sujeito busca a realização do Si-mesmo.

* Citações do livro: ‘Jung e a interpretação dos sonhos’ (James Hall)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Aparelho Psíquico segundo a visão junguiana

A psique é definida por Jung pela descrição dos lugares psíquicos e pela descrição dos processos que religam permanentemente esses lugares. Além disso, a psique é uma realidade viva e dinâmica que inclui tanto o eu quanto seus parceiros. Todas essas manifestações psíquicas se inscrevem dentro de uma concepção de totalidade.
Os lugares psíquicos seriam: a consciência, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. A consciência é entendida pela relação de conteúdos psíquicos com o eu, sendo que esta relação é percebida por este. O eu é o centro da consciência, apesar de suas bases inconscientes. Ele se constitui de duas bases (somática e psíquica) e parece resultar do entrechoque com o mundo exterior e, posteriormente, com o mundo interior também.
O inconsciente pessoal é exclusivo de uma psique individual, ou seja, todos os seus conteúdos pertencem ao próprio sujeito. Muitos desses conteúdos podem ser acessados pelo eu consciente, já que existem vários níveis de inconsciência. Geralmente, o inconsciente pessoal é chamado de sombra (que é um dos parceiros do eu), já que esta personifica tudo aquilo que o sujeito recusa conhecer ou admitir em si próprio. A despeito disso, a integração da sombra se faz muito necessária ao processo de alargamento da consciência.
O inconsciente coletivo seria aquilo que o indivíduo possui de universal e humano em si mesmo, tratando-se, assim, de uma estrutura aparentemente universal. No inconsciente coletivo existem os arquétipos e as imagens arquetípicas, que são a base para os complexos do inconsciente pessoal.
O inconsciente, de uma maneira geral, tem a grande função de compensação em relação à consciência. Ou seja, na medida em que a realidade exterior provoca uma reação qualquer no indivíduo, imediatamente seu inconsciente reage, emanando de suas profundezas uma resposta adequada e em conformidade com a totalidade da psique. Sendo assim, a psique total seria regulada por um centro (Si-mesmo) que estaria em constante diálogo com o centro da consciência que é o eu.
O eixo eu - Si-mesmo, portanto, teria a função de conduzir o processo de individuação, que é a realização do Si-mesmo. O objetivo do processo de individuação seria o próprio Si-mesmo, que é o arquétipo que promove as grandes transformações individuais, além de ser o ponto central de todo o indivíduo. O Si-mesmo abraça todo o sistema psíquico pela força de sua numinosidade.
Com o propósito de fortalecer o eu, existem mediadores nesse processo, que são chamados de parceiros do eu. Esses parceiros são a Persona, a Sombra, a Ânima e o Ânimus.
A persona se caracteriza pelas atitudes conscientes em relação ao mundo externo. O complexo da persona é constituído por forças que podem ser organizadas na consciência. Além disso, a persona sugere um sistema de adaptação e compromisso do indivíduo com o social, já que está voltada para o mundo exterior e servindo de mediadora entre o eu e este mundo externo.
A sombra representa as exigências e os desejos mais fracos e menos adaptados que ficam fora do campo da consciência. A sombra seria uma espécie de anti-eu que se forma em oposição tanto ao eu quanto à persona, constituindo-se, portanto, do que é reprimido pela persona por ter sido considerado negativo.
A ânima e o ânimus são mediadores junto aos conteúdos mais profundos da psique. São uma ponte entre a singularidade concreta do indivíduo e o inconsciente coletivo. A ânima é o arquétipo sexual feminino no homem, enquanto o ânimus é o arquétipo sexual masculino na mulher.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pensamentos de Carl Gustav Jung

"Não seja perfeito, mas tente, por todos os meios, ser completo." C G Jung

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“A maioria das coisas depende muito mais da maneira como as encaramos, e não de como são em si. Vale muito mais a pena viver as pequeninas coisas com sentido, do que as maiores, sem sentido.” C G Jung

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"... consciente e inconsciente não se acham necessariamente em oposição, mas se complementam mutuamente, para formar uma totalidade: o Si-mesmo." C G Jung

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“A camada mais profunda que conseguimos atingir na mente do inconsciente é aquela em que o homem ‘perde’ a sua individualidade particular, mas onde sua mente se alarga mergulhando na mente da humanidade – não a consciência, mas o inconsciente, onde somos todos iguais.” C G Jung

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“O centro da personalidade total não coincidirá mais com o eu, mas sim com um ponto situado entre o consciente e o inconsciente. Este será o ponto de um novo equilíbrio, o centro da personalidade total, espécie de centro virtual que, devido à sua posição focal entre consciente e inconsciente, garante uma base nova e mais sólida para a personalidade. (...) Eu poderia exprimir a mesma coisa, nas palavras de S. Paulo: ’Mas não sou eu quem vive, e sim o Cristo que vive em mim’. Ou poderia invocar Lao-Tsé, apropriando-me de seu conceito do Tao, o caminho do meio, o centro criador de todas as coisas. Todas essas formas de dizer exprimem a mesma realidade.” C G Jung

Objetivo do Blog

Criei esse blog com o objetivo de divulgar meu trabalho de psicóloga clínica na cidade de Resende / RJ e também compartilhar pensamentos sobre a Psicologia e assuntos relacionados ao Auto conhecimento.

Concluí a graduação em Psicologia em 1998, na PUC-RJ. Participei da primeira turma de pós graduação em "Psicoterapia Junguiana e Imaginário", coordenada pelo Dr. Álvaro Gouvêa (PUC-RJ). Tenho muita afinidade com a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung.

Mais recentemente, em 2009, iniciei a formação de facilitadora do Pathwork - com a professora Gloria Costa.

Tenho consultório no Surubi, numa chácara, à beira do rio Paraíba. Quem tiver interesse em marcar uma primeira entrevista (gratuita), pode falar comigo por email (nandasai@yahoo.com.br), ou pelo celular (24) 9991-6959.