quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Contínuo

“A continuidade é inerente à estrutura psíquica e não há razões de supormos o contrário, assim como não podemos imaginar que haja lacunas nos processos da natureza. A natureza é um contínuo, e muito provavelmente a nossa psique também o é.” C. G. Jung

O filósofo Espinoza viveu entre os anos de 1632 e 1677 e suas idéias foram bastante revolucionárias. Segundo ele, o que existe é uma substância única, auto-reguladora, causa de si, em si e por si, não existindo nada fora dela.
            Descartes afirmava que a realidade era constituída de duas substâncias – o pensamento e a extensão – que encontravam-se rigidamente separadas. Em contraposição, Espinoza declarou haver apenas uma Substância, sendo que à ela são atribuídos os atributos da extensão e do pensamento.
            Espinoza também dizia que os atributos poderiam ser infinitos, mas o homem apenas atribui esses dois, devido a sua pequenez de visão. A atribuição dada pelo homem é modal, ou seja, feita por um modo da Substância.
            O modo é como um “corte” que é feito na Substância, num determinado momento; é uma possibilidade de modificação. O ser humano é um modo da Substância e é, para Espinoza, um indivíduo uno, composto de corpo e mente juntos. Não apenas o ser humano, mas todos os entes, são modos de uma única Substância.
            Em outros termos, podemos afirmar que existe um contínuo e infinitos descontínuos que são como ondas dessa continuidade. Assim como o oceano é uma continuidade e as ondas são dobras suas, possuindo uma diferenciação, mas nunca deixando de ser o oceano. As ondas são expressões, possibilidades.
            Espinoza dizia que essa Substância única também poderia ser chamada de Deus ou Natureza. A partir do momento que ele iguala Deus à sua criação (natureza), ele está dizendo que tudo existe na Substância e por causa dela. Ou seja, Deus não se encontra num lugar separado, como um observador distante da sua criação, no “céu” ou em qualquer outro lugar específico. Deus está em todos os lugares e é tudo.
            Em termos junguianos, podemos dizer que o Si mesmo (Self) é a divindade imanente em cada ser humano. No processo de auto conhecimento, podemos reconhecer essa realidade maior que somos todos nós.

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